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Como ter um armário mais solar — e sustentável — em 2019

Por
Lilian Kaori Hamatsu
Em
13 agosto, 2019
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Ao longo de treze episódios, Ana Paula Xongani, Giovanna Nader e Marina Franco estreiam como apresentadoras em Se Essa Roupa Fosse Minha, programa que se propõe a desvendar as nuances da moda sustentável dentro do cada vez mais popular universo dos brechós. Em exibição aos sábados pelo GNT, a produção abre espaço pro diálogo sobre consumo consciente na televisão e conta com a participação de André Carvalhal, publicitário, escritor e diretor criativo da Ahlma.

Ana Paula Xongani, Giovanna Nader e Marina Franco em “Se Essa Roupa Fosse Minha”. Foto: Conspiração Filmes/Divulgação

Muito além da visibilidade que adquiriu ao discorrer de peito aberto sobre sua dislexia em um vídeo da youtuber Jout Jout, Ana Paula Xongani é mãe, estilista de marca própria, criadora de conteúdo e primeira mulher negra com dreads a protagonizar uma campanha de beleza no país. Assim como ela, Giovanna Nader é mãe [de Marieta, fruto do casamento com o ator, escritor e humorista Gregório Duvivier] e voz ativa no movimento que reforça o valor do armário de segunda mão. Ela também atua como consultora de moda e está por trás do Projeto Gaveta, um festival de troca de roupas. A terceira vértice do triângulo é a stylist e figurinista Marina Franco, que já chegou a dirigir um episódio da série Desnude e se autoproclama cozinhadora de sapatos. Politizado, o trio responde nossas inquietações sobre moda, consumo e futuro:

Ana Paula Xongani em “Se Essa Roupa Fosse Minha”. Foto: Conspiração Filmes/Divulgação

O que significa redesenhar a moda em 2019?

Xongani: Significa parar com a tortura do corpo perfeito e encontrar o melhor da moda nos diversos corpos e de acordo com as necessidades de cada um. Redesenhar a moda hoje é colocar as pessoas e suas experiências à frente das peças.

Giovanna: Olhar pra ela de maneira mais humana e ética, desde como a moda impacta o meio ambiente ao uso de mão de obra que está sendo aplicado. Redesenhar a moda em 2019 é não precisar de tanto, não ver só como um negócio ou produto e saber que existem pessoas por trás disso tudo.

Marina: Tudo o que a gente faz com certa frequência é moda. Seja o que você come, o esporte que pratica e como você joga o seu lixo fora, moda é comportamento. Em 2019, a moda é repensar o seu modo de consumo. Por exemplo, eu não comia chiclete há muito tempo, é artificial e me deixava mais tensa. Voltei a comer de repente e me toquei que era plástico e que chiclete tá out, não tá na moda. Vou parar de comer de novo e isso só aconteceu ontem. Os hábitos são traiçoeiros e o mais importante é estar atento e renovando seus hábitos diariamente. É difícil pra caramba, mas é uma tentativa e um esforço que coloco em prática a cada dia.

Giovanna Nader em “Se Essa Roupa Fosse Minha”. Foto: Conspiração Filmes/Divulgação

Possui alguma dica boa pra otimizar a compra de peças em brechós?

Xongani: Amplie os olhares e veja as peças não só pelo potencial de uso imediato, mas também pela capacidade de transformação. Por si só, a experiência de circular em um ambiente como o brechó te faz desenvolver um olhar mais consciente. Também é importante entender a curadoria de cada espaço de acordo com o seu próprio gosto. Brechós não são todos iguais, muito pelo contrário, carregam a personalidade de quem está por trás deles.

Giovanna: Enquanto na loja a roupa nova chega até você, no brechó é você quem vai atrás da roupa. Não perca de vista o seu estilo pessoal e o seu tipo de roupa preferido, fique de olho pra não levar tudo só porque é barato. Sou a louca dos brechós e falo por experiência própria que é um desafio achar tudo lindo e realmente comprar apenas o que vou usar. Uma compra em brechó é sobre continuar a história da roupa da melhor maneira possível e isso depende de nossas escolhas.

Marina: Você tem que relaxar, surfar nessa onda e curtir cada peça. Primeira coisa que faço é olhar o tecido, se está mais ou menos bem conservado. Como já tenho uma boa noção do meu corpo, quase não provo nada porque gosto de lavar a roupa primeiro. Outro hábito meu é olhar a etiqueta pra saber a procedência, quem fez, imaginar de qual época é. No fim, a melhor dica é se jogar. Se tiver preguiça, nem vai mana!

Você pode dar um exemplo de roupa que se transforma facilmente por meio de pequenas modificações?

Xongani: Comece pelas camisetas, elas são o abre-alas das transformações. Malha em geral demanda menos acabamento porque não desfia e é muito fácil de cortar. Depois invista em camisas. Tanto uma camisa pronta que dá pra usar de diversas formas, como alterações em pequenos detalhes. Da troca de botões ao abrir a peça e criar novos jeitos de vestir, dá pra usar camisa como saia, cortar e fazer cropped, pegar duas e fazer uma só bicolor…

Giovanna: Não tenho muitas habilidades manuais com costura e customização, mas uma coisa que adoro fazer é usar camisa como saia. É só descer ela até a altura do quadril, fechar os botões e amarrar com cintinho ou um broche. Adoro fazer isso!

Marina: Faço muitos pequenos reparos. Trocar botão é algo que transforma facilmente uma roupa, principalmente se acho que são apagados ou cafonas. Adulteração de comprimento também vale muito. Tenho uma calça da Osklen que não usava há muito tempo, uma pantalona com caimento esquisito e que transformei em pantacourt. Essas duas modificações transformam qualquer roupa instantaneamente.

Marina Franco em “Se Essa Roupa Fosse Minha”. Foto: Conspiração Filmes/Divulgação

Qual é a peça mais solar que você já adquiriu?

Xongani: Nos armários da família, considero os vestidos e um macacão que herdei da minha mãe e que ela ganhou da minha tia-avó. De brechó, gosto muito de um blazer verde maravilhoso que conquistei em um garimpo. É verde com ombreiras, bico de papagaio, botões dourados bem vintage, não precisou de nenhum ajuste, é de linho e super levinho, dá pra usar em qualquer estação.

Giovanna: A peça mais solar que adquiri nessa vida já deu o que falar e está até no programa: meu vestido de casamento! Nada mais especial do que achar uma peça como essa em brechó e saber que vou poder usar em outros casamentos, em festas, durante o dia com tênis. Esse vestido guarda uma das histórias mais lindas da minha vida dentro de uma roupa.

Marina: Dois coletes lindíssimos que adquiri em brechós, bem parecidos, bordados à mão, sem etiqueta, muito hippies e bem anos 70. Meu estilo pessoal já foi muito variado, passei por cada look nessa vida… mas nunca foi nada hippie. No entanto, tenho afeição por essas peças, o bordado é muito rico e colorido. Dá alegria instantânea ao olhar.

Quando falamos em consumo de moda no Brasil, qual é o seu vislumbre de um futuro mais solar?

Xongani: Pra mim o futuro é hoje. No meu vislumbre a moda é feita por todos e para todos. É inclusiva em todos os sentidos, principalmente a partir da conscientização de que a moda precisa ser aliada às nossas vidas e não o contrário. A moda vive pra gente e não a gente vivendo pra ela. Tem muita gente que fala: “ai, moda não é pra mim”, mas a moda é a ação de vestir e todos se vestem. Quando existe consciência, as pessoas começam a se sentir parte desse universo e quanto mais participantes diversos nós tivermos, mais rica a moda será.

Giovanna: Tenho certeza que todo mundo, independente de classe social, estilo de vida, de onde mora, tem roupa sobrando no armário. No futuro, espero que a gente tenha a consciência de que não necessariamente precisamos comprar melhor, mas que não precisamos comprar.

Marina: Na contramão desse obscurantismo político liderado pelo presidente que eu não ajudei a eleger, o consumo de moda no Brasil vem ganhando contornos mais solares e mais preocupados com o meio ambiente. Tenho tentado viver o presente da melhor maneira possível, individual e coletivamente. Tomara que essa onda solar na moda se espalhe para outros setores no futuro.

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