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Conheça a turma por trás do Mr. Poke, CityLights e Kingston Club, em SP

Por
Fabiana Corrêa
Em
7 maio, 2018

Era pra ser. Essa é a sensação quando se ouve a história da turma que abriu o CityLights, hostel que se transformou em uma casinha de shows, e do Kingston Club, que abriu as portas há dois meses no antigo imóvel onde funcionava o Bar Secreto e já acumula gente em boa parte da calçada da rua Cunha Gago com a Álvaro Anes, no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. “Percebemos que as pessoas estão preferindo ficar na calçada, não querem se enfiar em uma casa fechada o tempo todo. E o Kingston atrai por conta disso”, diz Lucas ‘Flores’ Lima, um dos sócios.

A história começou em 2011, quando Lucas trabalhava em um hostel e organizava viagens com roteiros bem naturais, de cachoeiras a montanhas e praias desertas, com sua agência de turismo. Entre um papo e outro nos fins de tarde, recebeu um convite do amigo Ricardo Alves, ex-colega da faculdade de biologia. Ele estava abrindo seu próprio hostel e queria Lucas na sociedade. “Fazia todo o sentido a gente trabalhar junto porque eu já tinha essa experiência e curtia muito receber pessoas”, conta Lucas.

A chef Renata Vanzetto em concurso de dança no CityLigths | Foto: Oliveira/Divulgação

Cassiano e Nina Bonjardim, norte-americanos filhos de brasileiros, curtiram São Paulo – a ponto de deixarem São Francisco, na Califórnia, para viver aqui –, e também estavam na empreitada. Nina, na época namorada de Ricardo Alves, estudou hotelaria com a irmã dele, Maria Fernanda. Essa última estava chegando de uma temporada de um ano e meio na praia de Taípe, na Bahia, onde foi gerenciar o restaurante do Club Med. E, claro, entrou para completar o grupo.

Reggae e outras rimos caribenhos dão tom das atrações que se apresentam no Kingston | Foto: Victor Balde

Assim, o círculo se completou e nasceu o hostel que, durante quatro anos, foi considerado um dos melhores de São Paulo por conta da organização, dos detalhes bem cuidados e do café da manhã farto. “Cada um foi fazendo o que sabia, a coisa foi rolando naturalmente. Cassiano e Ricardo reformaram o imóvel, que era antiguinho, com as próprias mãos. Construíram todo o deck de madeira onde acontecem os shows, o bar, fizeram os bancos”, conta Fernanda. “Eu entendia um pouco de restaurante e hospedagem e ajudava a cuidar de tudo. E o Lucas recebia as pessoas e organizava as viagens”.

Ricardo curtiu tanto a reforma da casa que, algum tempo depois, mudou-se para Camburi com Nina e os dois filhinhos, e montou sua própria marcenaria por lá. Não saiu da sociedade mas, como já não está presente no dia a dia da casa, abriu espaço para novos sócios entrarem.

Lucas “Flores”, Maria Fernanda Alves, Felipe Scarpa e Thiago Tebet, sócios do Kingston Club | Foto: Victor Balde

Assim, em 2015, Felipe Scarpa, outro amigo dessa turma, voltava para o Brasil depois de dois anos entre Austrália e Havaí. Lá, aprendeu a fazer poke, o prato à base de peixe cru que virou moda por aqui, e montou a primeira unidade do Mr. Poke em um tuk-tuk (triciclo comum na Tailândia) que ficava parado na frente do CityLights. De cara, entrou também para a sociedade no hostel. E fez seu restaurante na parte da frente um ano depois.

Há dois meses, além da segunda unidade do Mr. Poke, que fica no bairro dos Jardins, Felipe montou o Botanikafé, que serve brunch, a poucas quadras do CityLights. A ideia surgiu quando foi visitar a namorada, a arquiteta Manu Albuquerque, em Barcelona, e acabou passando quatro meses por lá. “Eu adorava os cafés do bairro, então fiquei olhando os caras cozinharem e aprendendo a fazer as receitas”, diz Felipe. Apesar do visual surfista (ele pega onda, de fato), quando vai para cozinha o chef tem uma veia nerd. “Eu treino cada receita mil vezes, olho um tutorial no YouTube e vou repetindo até ficar do jeito que eu quero”.

Foto de Bob Marley decora uma das paredes externas do Kingston Club| Foto: Victor Balde

Mudança de área

Com todo o talento dos sócios em diferentes áreas, o hostel era um sucesso de público, mas o dinheiro ainda custava a entrar. Foi aí que veio a ideia de realizar festas e pequenos shows na parte de trás do imóvel. Primeiro vieram as festas, semanais, cujas filas chegavam até a esquina. A receita de música boa, normalmente comandada por DJs amigos da casa ou pocket-shows de grupos como Lumen Craft, além de drinks a preços justos, foi garantia de sucesso. E fez Lucas descobrir um novo talento que não sabia possuir: o de produtor musical. “Fui buscar artistas de diferentes estilos, de carimbó a cumbia, do Brasil e do restante da América Latina”, diz.

Os ritmos brasileiros e latinos rolam cedo nos palcos do CityLights, por volta das 22h. No Kingston, a uma quadra dali, cujo nome presta homenagem à capital da Jamaica, a música da terra de Bob Marley e de outras regiões do Caribe começa lá pela meia-noite. “Não vamos ficar só no reggae. A gente quer mostrar música boa, não tem um rótulo”, conta.

Música para dançar é a ideia do CityLights Hostel | Foto: Victor Balde

Além de pegar gosto pela produção musical e trazer bandas do Chile à Jamaica para os palcos das duas casas, Lucas ainda comanda a sua Flower Power Alternative Trips, agência de viagens que chega a reunir 150 pessoas em destinos como a Chapada dos Veadeiros (GO) e Caraíva (BA). “A gente não se desgruda nem nas férias, então vai todo mundo e ainda levamos a Renata Vanzetto, chef do Marakuthai e do Ema, casada com o Cassiano. Ela que fez nossa ceia de réveillon”, diz.

Concurso de dança no hostel que virou casa de shows | Foto: Divulgação

Um passo de cada vez
Um dos principais aprendizados dessa galera é que é importante começar aos poucos e colocar a ideia na rua, mesmo que o “produto” ainda esteja em fase de testes. No Kingston, um anexo do bar voltado para a rua funciona desde fevereiro. Depois vieram os shows. E, em breve, o restaurante começa a operar no andar de cima. “Queremos fazer pratos inspirados na comida jamaicana”, diz Felipe, da cozinha, enquanto empurra uma geladeira velha que precisa de conserto. “A gente não faz grandes investimentos de cara, faz conforme a casa vai enchendo e dando grana.”

Para transformar a atmosfera underground do antigo bar em algo mais solar – o Bar Secreto funcionou no mesmo endereço entre 2007 e 2017 –, chamaram Thiago Tebet, amigo e artista plástico que se envolveu no projeto e entrou para o negócio. No momento, ele está desenhando nas paredes símbolos do reggae e da Jamaica, além de dar um trato na área interna. “Eu sempre curti essa estética e a música. Estou adorando trabalhar na rua, pintando as paredes e interagindo com quem passa”, diz Thiago.

Kingston Club São Paulo

Thiago Tebet, um dos sócios, faz a fachada do Kingston. Acima, a esquina das ruas Cunha Gago e Álvaro Anes, onde funciona o bar | Fotos: Victor Balde
Kingston Club: mesas na calçadas e shows rolando do lado de dentro | Foto: Victor Balde

Enquanto Thiago faz a pintura, os outros sócios vão andando em torno do Kingston para ver o que falta, o que dá para ser melhorado. Mas de um jeito meio intuitivo, sem muita hierarquia. A impressão que dá é que cada um vai fazendo sua parte e, no fim, a coisa dá certo. E, mais que isso, que todos estão se divertindo muito. “Antes, quando eu trabalhava em outros lugares, acordava e já pensava ‘que saco!’. Hoje é muito diferente. A gente encontra os amigos — os que trabalham aqui e os que curtem os shows — e tem muito orgulho do que faz”, diz Maria Fernanda. Tudo de forma muito natural. E parece ser exatamente essa espontaneidade o principal ingrediente para o sucesso em série dos empreendimentos dessa turma tão solar.

CityLight Hostel. Rua Padre Garcia Velho, 44, Pinheiros. Tel.: 11 2364-4231. Rua da Consolação, 2902, Jardins. @CityLightsHostel

Mr. Poke. Rua Padre Garcia Velho, 44, Pinheiros. Tel.: 11 3031-7848. @mrpokebr

Kingston Club. Rua Álvaro Anes, 97, Pinheiros. Tel.: 11 2364-4231. @kingstonclubsp

Botanikafé. Rua Padre Carvalho, 204, Pinheiros. Tel.: 11 3819-0726. @botanikafe

Foto de abertura: Victor Balde

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