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Os anos 1980 no Rio de Janeiro e a maravilhosa história do verão da lata

Por
Adriana Setti
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Como 15 mil latas com a melhor maconha tailandesa transformaram o verão de 1987/1988 na versão brasileira do summer of love, em um cenário de abertura e euforia após o fim da ditadura militar.

O Brasil vivia um período de abertura após a ditadura militar e ainda estava se recuperando do trauma da morte de Tancredo Neves, enquanto sofria as consequências do Plano Cruzado, em um País governado por José Sarney. De repente, em setembro de 1987, Yemanjá mandou um presentão: 15 mil latas com 22 toneladas de maconha prensada com mel, perfeitamente embalada a vácuo, flutuando no litoral brasileiro. “A gente varria a praia à noite com lanterna e tudo o que brilhava era lata”, conta o fotógrafo Rui Mendes no documentário O Verão da Lata, Baseado em Fatos Reais, que encontrou 32 delas em Ubatuba. Quem teve o prazer de abrir uma conta que, ao primeiro furinho do abridor, ela fazia “pufff”, exalando um cheiro delicioso. E, fora do vácuo, virava uma montanha de bagulho, com camarões gigantes, da melhor Cannabis indica da Tailândia. Aqui, a gente resume e relembra a maravilhosa história do verão da lata, a versão brasileira do summer of love.

O destino de Solana Star

Comprado na Austrália, o navio Solana Star foi carregado com 22 toneladas de maconha na Tailândia. O destino final das 15 mil latas com 1,5kg do melhor bagulho prensado com mel, a vácuo, seriam os EUA. Quando o Solana Star se aproximou da costa do Brasil, a polícia foi avisada pela DEA, a agência americana de combate às drogas, e acionou a Marinha. Apesar do navio brasileiro não ter visto os traficantes, ele foi visto por eles. Pra não rodar, os caras jogaram tudo no mar perto da Ilha Grande (RJ).

Sobrou pro “cozinheiro”

O Solana Star só foi encontrado quando já estava atracado no Rio de Janeiro, vazio. O único da tripulação a bordo era, supostamente, o cozinheiro, que foi em cana. O chefão da operação foi preso em Miami. Foi só duas semanas depois da prisão do “cozinheiro” que a “prova” do crime começou a chegar em terra firme, no Arpoador, no Leblon, em Angra dos Reis… Em São Paulo, as primeiras foram avistadas no Guarujá. Depois, em Ubatuba, Ilhabela… Só 3292 latas foram apreendidas pela polícia (2533 em SP)!

Loucura em São Paulo

A paulistada desceu em massa ao litoral pra procurar as latas junto com os pescadores. Numa regata de Ilhabela a Santos, teve barco voltando pra trás quando um velejador alertou sobre um “mar de latas” brilhando.

Virou meme

Só dava a lata: nos quadrinhos do Angeli, em camisetas, na voz do Cid Moreira. Uma foi parar na mão do vocalista do UB40 no palco do Hollywood Rock em janeiro de 88. Virou gíria: o que era bom era “da lata”. “Na história do Brasil só aconteceu coisa ruim, com exceção do verão de 87 pra 88”, diz o jornalista Eduardo Bueno, o Peninha, testemunha ocular dos fatos. “Eu não me lembro de nada, nem sei como estou contando essa história”.

Saiba mais: documentário O verão da lata, baseado em fatos reais, de Tocha Alves e Haná Vaisman; livro Verão da Lata, de Wilson Aquino.

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