Tema de documentário, o artista carioca transitou do samba ao blues fazendo música do seu jeito, peitando as provocações e fugindo do hype.
Com imagens pinçadas de vários acervos, Luiz Melodia – No Coração do Brasil, costura depoimentos dados pelo cantor em entrevistas ao longo de sua vida (1951-2017), o filme traz registros históricos — alguns deles inéditos —, trechos de shows e cenas com outros grandes da MPB. A gente pega carona e rende nossa homenagem.
Já estreou gigante
Melodia estava prestes a desistir da música quando Waly Salomão o apresentou a Gal Costa, que gravou sua Pérola Negra. Um ano mais tarde, em 1973, a música batizou seu primeiro álbum — um dos mais celebrados e revolucionário da história da MPB —, no qual misturou o samba do morro com ritmos como rock, soul, blues e jazz.
Foi sábio
Sua poesia misturava o coloquial com um lirismo sofisticado e, por essas e outras, foi pouco entendida pelos menos atentos. Mas sabia, como ninguém, que “se a gente falasse menos talvez compreendesse mais”.
“Ele também era um tremendo dançarino, um showman. Subia no palco e aquilo tinha a ver com teatro, com cinema. Esse jeito de dançar ele trouxe do Estácio, do menino do morro que ele foi.”
Patricia Palumbo, jornalista que, além da direção musical de Luiz Melodia – No Coração do Brasil, assina o roteiro com Alessandra Dorgan
Fez do seu jeito
Era fiel a si mesmo e às suas convicções artísticas, apesar da pressão das gravadoras da época. Desafiou todas as estatísticas — e o racismo estrutural — quando desceu o morro e resolveu que não iria tocar só samba. O Sangue Não Nega (1983) é uma resposta elegante a essas cobranças.
Sempre foi anti-hype
Bombou com Juventude Transviada, trilha sonora da novela Pecado Capital (1975), da TV Globo. Assustado com o sucesso, se mandou pra Itaparica, na Bahia, pra esperar “a coisa acalmar”.
“Apesar de circular nas rodinhas da Zona Sul do Rio de Janeiro nos anos 1970 e 1980, os artistas que ele admirava e os amigos dele eram os mais underground e disruptivos da época, como Jards Macalé, Sérgio Sampaio ou Itamar Assumpção”.
Alessandra Dorgan, diretora de Luiz Melodia – No Coração do Brasil
Foi brabo
Enfrentou todo o tipo de preconceito, bem como o rótulo de “maldito”. Com mais de 40 anos de carreia, o cara que compôs Magrelinha e Estácio, holy Estácio dava de ombros: “Nunca me incomodou, até porque sou compositor e tenho essa felicidade de criar, com liberdade, sem me prender a esse ou aquele estilo”, disse em entrevista ao G1.
Crédito da imagem de abertura: Acervo Pessoal