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54 horas em Paraty: um roteiro meio gastronômico, meio intelectual — e muito mar — pela maior joia colonial fluminense

Por
Adriana Setti
Em parceria com
true

A cidadezinha de pouco mais de 50 mil habitantes, a meio caminho entre Rio e São Paulo, conta com uma deliciosa rotina caiçara que alterna banhos de cachoeira e de mar, passeios de barco, trilhas na mata e goles de cachaça.

No auge do inverno, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) reúne, desde 2003, centenas de autores e pensadores (e mais uma multidão de fiéis seguidores) num dos destinos mais encantadores da Rio-Santos. A exceção foi este 2020, que por causa da pandemia teve a agenda de eventos culturais da cidade totalmente cancelada. No resto do ano, a cidadezinha de pouco mais de 50 mil habitantes, a meio caminho entre Rio e São Paulo, mergulha numa deliciosa rotina caiçara que alterna banhos de cachoeira e de mar, passeios de barco, trilhas na mata e goles de cachaça — algumas das melhores do país são fabricadas na região. Entre bares com música ao vivo, jantares em restaurantes que não fariam feio nas capitais mais próximas e incursões por um dos cantos mais bem preservados da natureza do Sudeste, um roteiro de 54 horas pelo melhor do passado colonial fluminense.

DIA 1

17h
Passeio pelo centro histórico de Paraty: entre casarões e pés de moleque

Emoldurada pela Serra do Mar, banhada por águas tranquilas e dona de um lindo casario branco de portas e janelas coloridas que sobreviveu com graça à passagem dos séculos, Paraty é, desde 2019, Patrimônio Mundial da Humanidade brasileiro (junto com a vizinha Angra dos Reis, num mix dos quesitos cultural e natural). Deixe as malas na pousada e vá de cara fazer o reconhecimento do terreno. Passear sem rumo pelas ruelas e calçadas de grandes pedras de Paraty (chamadas pés de moleque), bisbilhotando dentro dos casarões dos séculos 17 ao 19, é uma delícia — o visual fica ainda mais bonito quando a maré sobe e a água do mar invade as ruas, refletindo as fachadas coloniais.

A Livraria das Marés: Flip o ano todo | Crédito: Divulgação

18h
A melhor livraria de Paraty: eternamente Flip

Entre lojas de artesanato e de grandes marcas nacionais, galerias de arte e ateliês, um endereço é simplesmente imperdível. Por trás da fachada do número 52 da Rua Tenente Francisco Antônio fica a linda Livraria das Marés, um espaço de 200 metros quadrados com estantes recheadas de pérolas. Aproveite pra tomar um expresso e provar os doces afrancesados no café no seu interior, que se abre pra um jardim ao fundo.

20h
Pé de cana: as famosas cachaças artesanais de Paraty

Este trecho da Serra do Mar reúne as condições ideais pro cultivo da cana de açúcar e, desde os tempos em que os portugueses ainda ditavam as regras por aqui (e elegeram Paraty o principal porto de partida do ouro rumo à metrópole), dá origem a uma das melhores cachaças do Brasil. Pra abrir o apetite antes do jantar, peça pra ser introduzido às branquinhas locais. A Rua da Cadeia, ao lago da Praça da Matriz, tem um bar ao lado do outro. 

Centrinho de Paraty: novo Patrimônio Mundial da Humanidade | Crédito: Tupungato/iStock

21h
Onde comer bem em Paraty: caiçara de boutique

Quem fez o dever de casa e reservou com antecedência vai poder provar as receitas da chef Ana Bueno. No restaurante Banana da Terra, a estrela é a cozinha caiçara focada em peixes e frutos do mar, na maior parte das vezes com a presença da vedete que empresta o nome à casa no prato. Comece com os bolinhos de queijo recheados de paçoca de banana e geleia de pimenta. E siga com pratos como os camarões sobre risoto negro ou a famosa moqueca de banana da terra com pupunha. Pra encerrar, a sobremesa que já é um clássico: torta quente de banana coroada por uma bola de sorvete de canela e enfeitada por uma crocante farofa de castanha de caju. 

DIA 2

9h
Passeio de barco em Paraty: de ilha em ilha

Embora fique à beira-mar, Paraty não tem uma praia central à sua altura. Já a baía que se escancara logo em frente, pontilhada de ilhas e ilhotas, é um arraso. Fuja dos passeios de escuna, saia cedo (pra evitar qualquer chance de aglomeração) e invista nos barcos menores pra aproveitar melhor o dia no mar. As traineiras de madeira, conhecidas como “pó pó pós”, são um charme e custam menos; já as lanchas rápidas levam mais longe — uma ótima operadora é a Palombeta. No primeiro caso, o roteiro ideal passa por lugares como a Praia de Jurumirim, a Ilha Comprida e a Lagoa Azul. No segundo, invista no Saco do Mamanguá, um pouquinho mais longe, braço de mar que avança terra adentro conhecido como “fiorde brasileiro”. As águas transparentes são perfeitas pra mergulhar. Combine com o barqueiro uma parada estratégica pro almoço em restaurantes típicos à beira-mar.

Ilhas ao redor de Paraty|Crédito: Fernando Branco/iStock

19h
Centro histórico de Paraty: um tanto de cultura

Antes do jantar, aproveite pra explorar um pouco mais do centro histórico, caminhando entre igrejas e galerias. E não deixe de conferir a programação da Casa da Cultura de Paraty, que costuma receber exposições temporárias e exibir obras de artistas locais.

21h
Comer bem em Paraty: da fazenda pra mesa 

O conceito da culinária farm to table, no restaurante Quintal das Letras, é literal. E a farm, no caso, é a Fazenda Bananal, dos mesmos donos, não muito longe dali. Instalado na Pousada Literária, tem um dos ambientes mais bacanas de Paraty. O menu transita com capricho das carnes (viva as costeletas de cordeiro!) aos frutos do mar, com ênfase ao que é cultivado no quintal. Entre as sugestões, destaque pro trio de ceviches, de palmito, camarão e peixe, cada um harmonizado com uma PANC (planta alimentícia não convencional).

23h
Música ao vivo em Paraty: um banquinho, um violão

A marca registrada da noite em Paraty são os bares com música ao vivo. A qualidade depende um pouco da sorte, que vale ser tentada na Rua Tenente Francisco Antônio (vulgarmente conhecida como Rua do Comércio, a principal) e adjacências.

DIA 3

Trindade, a 20 Km do centro: as melhores praias de Paraty não estão em Paraty | Crédito: Felipe Goifman/iStock

10h
Trindade: a praia do vizinho é mais verde

As melhores praias de Paraty ficam, na verdade, não em Paraty, mas na vizinha Trindade. O visual das enseadas cor de esmeralda vai compensar a distância, de pouco mais de 20 quilômetros. Prepare as pernas pra encarar as trilhas e caminhadas e vá direto ao que interessa: Praia do Meio e Praia do Cachadaço. Melhor ainda: estique um pouquinho mais até a piscina natural do Cachadaço, acessível por uma trilha de meia hora que parte do fim da praia. 

16h
Alambiques de Paraty: direto da fonte

Já que estamos na terra da cachaça… beba na fonte. Há uma série de alambiques que podem ser visitados, com pequenos museus e lojas que podem organizar degustações. Se estiver de carro, o desvio é merecido. O mais antigo deles, fundado em 1803, é o que fabrica a famosa Cachaça Coqueiro, na Fazenda Cabral, a cerca de 7 quilômetros do centro.

20h
Boa mesa em Paraty: sabores do mundo

Marina Schlaghaufer é alemã, escolheu viver no Brasil e abriu um restaurante… tailandês! Depois de inúmeras idas e vindas ao Sudeste Asiático ela abriu, em pleno centro histórico, o Thai Brasil, um do cantinhos mais coloridos e simpáticos da cidade, com direito a um jardim nos fundos, onde cultiva as ervas que vão parar nas receitas. Entre as especialidades da casa, salada de papaya ou sopa de leite de coco com frango, seguidas pelos clássicos noodles fritos com camarão e curries de todas as cores (verde, vermelho, amarelo). O grand finale fica por conta do arroz doce feito com leite de coco e fatias de manga. O chá gelado de cidreira com limão é uma ótima pedida pra acompanhar.

Foto de abertura: Kseniya Ragozina/iStock

A vida é aqui fora!

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