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Chico, do Combinado Carioca: ele virou cupido, ombro amigo e uma das figuras mais queridas do Rio

Por
Bruno Dieguez
Em
1 agosto, 2019
Em parceria com

Depois de décadas no Leblon, uma experiência de quase dez anos como empresário à frente do Chico & Alaíde e três meses fora de circulação, ele está de volta com sua simpatia inconfundível

O Humaitá está sorrindo mais fácil. Desde o início de 2019, o bairro ganhou um reforço de peso em sua cena boêmia. Francisco Chagas, o icônico Chico do Bracarense, aportou por ali como gerente do Combinado Carioca. Depois de décadas no Leblon, uma experiência de quase dez anos como empresário à frente do Chico & Alaíde e três meses fora de circulação, ele está de volta com sua simpatia inconfundível. É um chamariz de ouro. Os donos do bar já registram uma leva de clientes fiéis vindo só para conhecer a nova casa de Chico. É um tal de aperto de mão e abraço apertado sem parar que confirma a fama daquele que já foi eleito o melhor garçom do Rio.

“O que eu mais gosto no bar é a relação com as pessoas. Já dei muitos conselhos. Os clientes querem conversar, desabafar, te contam tudo”, afirma Chico. Pode ser culpa do sorriso largo, uma marca registrada deste cearense de Cratéus que tem título de cidadão carioca conferido pela Câmara dos Vereadores. Mas vai além. Chico sabe o nome de todo mundo, habilidade adquirida nos tempos de Bracarense, onde as contas não eram assinaladas pelo número da mesa, mas sim pelo nome dos clientes. 

A memória também é boa para acumular histórias curiosas — ele só não revela a identidade dos personagens. Um dia, conta, um casal conversava numa mesa e o marido paquerava outra mulher, sentada logo atrás. Interesse correspondido, ele levantou e perguntou ao Chico o que devia fazer. “Você tá com a sua esposa, não tem jeito.” Na insistência para pular a cerca, arrancou um conselho do garçom-cupido. “Quando você levantar de novo para ir ao banheiro, bata com o joelho na mesa para derrubar o chope na sua senhora. Ela vai embora na hora.” Não deu outra. Ele colocou a esposa no táxi e cinco minutos depois já estava conversando com o flerte da mesa ao lado. Acabou se divorciando e começou a namorar a nova cliente do bar.

Fotos: Larissa Kreili

Amores, separações, intrigas e histórias de todo tipo estão sempre no cardápio de causos vividos por garçons experientes. Há mais de 30 anos na cidade, Chico adora essa vida – e diz que o melhor do povo daqui é o bom humor, o carisma e a disposição em ajudar quem vem de fora. Ele concorda com a previsão dos amigos: vai ser garçom pro resto da vida. O segredo de um bom profissional, diz, é ter vontade e pensar como você gostaria de ser atendido. “Não é para chegar encostando no ombro do cliente, cheio de intimidade”, ensina.

É preciso ser discreto e receber a todos da mesma forma, dos anônimos às celebridades e aos poderosos. Artistas, jogadores de futebol, bicheiros e políticos frequentam o bar onde o Chico estiver. E por causa dele. Circula uma piada que o Chico & Alaíde, seu último bar, fechou porque boa parte dos clientes foi presa pela Lava-Jato. Mas ele rebate dizendo que passou a receber por lá os jovens promotores da operação. “O bar é aberto ao público, tem que atender todo mundo, não importa a visão política”, afirma. 


É nos botequins da cidade, entre os amigos reunidos em torno de copos de cerveja, petiscos e, com sorte, música boa, que mora a alma da boemia. O pessoal do dominó continua por lá, enquanto novos endereços pipocam pelas ruas do Brasil, provando que dá para se reinventar sem perder a tradição. A Bohemia gelada acompanha, mas o que importa mesmo são os encontros.
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