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54 horas em Bali: um roteiro hedonista na ilha hinduísta da Indonésia

Por
Adriana Setti
Em
1 novembro, 2019
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Enquanto habitués da era pré “Comer, Rezar, Amar” lamentam o desaparecimento de boa parte dos arrozais, dos preços risíveis e do sossego nas praias da Península de Bukit, outros se divertem no grande playground de adulto formado pelo circuito Uluwatu, Seminyak e Canggu

Nos últimos dez anos, Bali ampliou seu aeroporto internacional, ganhou incontáveis hotéis, construiu estradas pra (tentar) desafogar o trânsito caótico e triplicou o número de visitantes – que, em 2018, bateu na casa dos 6,5 milhões. Muitos deles vieram pra ficar, o que fez com que a população aumentasse de 3,8 (em 2010) para quase 5 milhões, causando uma verdadeira metamorfose na ilha. Enquanto habitués da era pré “Comer, Rezar, Amar” (foi lá que a escritora americana Elizabeth Gilbert conjugou o terceiro verbo) lamentam o desaparecimento de boa parte dos arrozais, dos preços risíveis e do sossego nas praias da Península de Bukit, muitos outros se divertem no grande playground de adulto formado pelo circuito Uluwatu, Seminyak e Canggu. A seguir, um roteiro bagus pra 54 horas de culto ao hedonismo, no reduto hinduísta da maior nação muçulmana do mundo.

DIA 1

17h
O macaco pega

Pra entrar na vibração balinesa, vá direto ao Pura Luhur Uluwatu, um dos pilares espirituais da ilha, debruçado num penhasco a 70 metros de altura, na mítica praia de Uluwatu. Povoado por símios cleptomaníacos ávidos por celulares e óculos escuros (não à toa, os funcionários do templo sabem dizer “o macaco pega” em praticamente todos os idiomas), o templo é o lugar mais emblemático pra conhecer a dança kecak. Protagonizada por dezenas de homens nus do torso pra cima dispostos em círculos concêntricos, o espetáculo é a encenação de uma passagem do poema Ramayana, uma das principais epopeias do hinduísmo. A apresentação ocorre no pôr do sol, ao som de vozes ritmadas que dispensam instrumentos. É de arrepiar – a despeito das centenas de turistas.

Drinks com vista no Ulu Cliffhouse | Foto: divulgação

18h
Direto ao assunto

Mas não é preciso fechar com as entidades hinduístas para ter um fim de tarde divino em Uluwatu. No Ulu Cliffhouse, o ritual rola à beira de uma impressionante piscina de borda infinita, de frente para o mar – com direito a um Aperol Spritz na mão. Um dos beach clubs cinematográficos que floresceram em Bali nos últimos anos, também tem um deque sobre as ondas e restaurante a céu aberto. Para uma vibe mais chinelão e Bintang (a cerveja número 1 da Indonésia), jogue-se num dos pufes do Sunset Point Uluwatu.

DIA 2

7h
Pro dia nascer feliz

Surfistas, nômades digitais e iogues se trombam a cada manhã no Bukit Café, o melhor lugar pra fazer a primeira refeição do dia na Península de Bukit. Servindo altos bowls de frutas e cereais, além da avocato toast nossa de cada dia, fica estrategicamente localizado entre as praias de Bingin e Padang Padang, dois templos do surf. 

A praia de Bingin, onde fica o restaurante Kelly’s | Foto: Jeremy Bishop

10h
Praias secretas

Por mais hypadas que sejam, hoje em dia, as praias da Península de Bukit, ainda é possível fugir do crowd, sem ter que ir muito longe de pop stars como Nusa Dua ou Uluwatu. A prova disso é a existência de Green Bowl, no extremo sul da península de Bukit, acessível por uma escadaria infinita habitada por macacos (como sempre, fique atento ao fator “o macaco pega”, principalmente na hora do piquenique). Outro achado, pertinho de Uluwatu, é Thomas Beach. Pra chegar a ambas, guarde as indicações do Google Maps pra usar offline, já que não há placas e o sinal do celular vai e vem. 

13h
Nasi goreng, prazer

Uma das faixas de areia mais generosas da região, a praia de Bingin é uma boa também pra quem não surfa. Aproveite o embalo para almoçar no Kelly’s (na foto acima), um warung (restaurante simples) cheio de estilo, ideal para iniciar-se no nasi goreng. Prato mais trivial da Indonésia, é feito de arroz com vegetais e também pode levar camarão, frango, peixe…

15h
Life is a beach club

Pode ser culpa das ondas tubulares que quebram nos corais a pouquíssima profundidade. Ou então das faixas de areia cada vez mais disputadas e reduzidas. Mas o fato é que, nos últimos anos, a Península de Bukit ganhou algumas das piscinas mais espetaculares do Sudeste Asiático. Uma delas fica no Ominia, um beach club que paira sobre um costão forrado de verde, com uma gigantesca e vertiginosa infinity pool, de frente para o mar. Outro lugar altamente instagramável é o Karma, onde um elevador leva do penhasco a uma pequena praia privê. Aproveite o spa pra dissolver os nódulos de tensão com uma massagem balinesa. 

18h
Compromisso de fim de tarde

No fim da tarde, todos os caminhos de Bukit levam a Uluwatu, onde as escadarias que descem até a praia formam uma espécie de labirinto, revelando botecos, restaurantes e lugarzinhos especiais a cada “andar”. Um deles é o Single Fin, onde a surfistada se junta pra “monotematizar” sobre os tubos do dia entre goles de Bintang. O pôr do sol é matador.  Fique atento na programação especial de shows (foto) aos domingos.

DIA 3

8h
República independente de Canggu

Nenhuma outra área de Bali passou por tamanha metamorfose nos últimos anos como Canggu. O que antes era uma zona rural tomada por arrozais hoje em dia é uma bolha ocidental na Indonésia, com casas espetaculares, cafés sofisticados e baladas que poderiam estar em Berlim. Comece a se enturmar com um desjejum natureba no Parachute, um café hipster sombreado por uma tenda ao estilo Burning Man. 

O templo de Tanah Lot | Foto: Nick Fewings

9h
De volta a Bali

A Bali de sempre resiste nos arredores de Canggu na forma do templo de Tanah Lot, um dos mais importantes – e mais visitados – da ilha. A parte mais linda e fotogênica do complexo fica encarapitada no topo de uma rocha cercada pelo mar. 

13h
Made in Canggu

Barcelona? Melbourne? São Paulo? Outro café para encontrar expatriados radicados em Canggu, o The Loft tem design escandinavo, um pé no lifestyle arejado da Austrália e comidinhas ocidentais saudáveis, com influência de várias cozinhas do mundo. 

14h
Comprinhas espertas

Habitada por mentes criativas vindas de várias partes do globo, Canggu também é um dos melhores lugares de Bali pra fazer compras. O epicentro do bairro pra isso é a Jl Pantai Batu Bulong, onde rola mercadinho orgânico aos domingos. Um lugar estratégico é o Love Anchor (foto), bazar sofisticado onde você encontrará peças de decoração, bolsas de fibras naturais, sarongues e muitos outros badulaques tentadores. Entre as lojas, vale conferir a concept store Bamboo Blonde, a Lost in Paradise e a Atilla and Co. 

Fim de tarde concorrido na piscina do Potato Head | Foto: Ern Gan/Unsplash

17h
Megalomania praiana

Vizinha de Canggu, Seminyak é uma das zonas mais glamorosas de Bali, repleta de hotéis de luxo, lojas de decoração e restaurantes. É lá, também, que o fenômeno beach club tomou proporções megalomaníacas, impulsionado pelo fato de que as praias da região definitivamente não são as mais bonitas (ou limpas). Mergulhar em todas as piscinas de borda infinita do pedaço é tarefa pra vários dias. O jeito, portanto, é escolher o que mais combina com você. Pai de todos os beach clubs de Bali, o Ku De Ta continua sendo um dos mais suntuosos. Outro com alma de jetsetter é o The Lawn. Na categoria menos não é mais, aposte no Potato Head (foto). E se a ideia é algo um pouco mais low profile, pero no mucho, vá de Mano.

Vault: vibe berlinense em Bali | Foto: divulgação

19h
Da Indonésia a Berlim

A noite é uma criança em Canggu, onde você pode começar com os coquetéis finos do The Slow, no hotel de alma hipster de mesmo nome. Depois, pegue um skate e demonstre seu valor na pista do Pretty Poison, onde rolam DJs, rios de Bintang e alguns tombos. Na pegada speakeasy, o Black Cat Mini Mart é um bar de respeito que se esconde atrás da porta do refrigerador de um mercadinho xexelento. E para fechar a noite em Berlim, só que em Bali, vá ao Vault (foto).

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