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Sarah e Bia trocaram a vida acadêmica pelo 37 Graus, o podcast pé na estrada que fala das transformações na paisagem e na cultura do Brasil

Por
Mariana Weber
Em
26 novembro, 2019
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As duas amigas rodam o Brasil atrás de histórias que merecem a nossa atenção: do futuro dos corais no litoral do Rio Grande do Norte a uma aldeia indígena na Serra do Mar que planta sete tipos de milho guarani.

O tempo passado na bancada de um laboratório da Universidade da Califórnia, fazendo testes com radioatividade, levou a bióloga Sarah Azoubel, 32 anos, a ouvir podcasts como This American Life e Radiolab. O interesse por podcasts a levou a deixar a vida acadêmica e ir pra rua atrás de histórias de ciência e de gente. “Desde criança sempre quis ser cientista e achei que ia ser desses biólogas que vão pro mato”, conta a paulista de Ribeirão Preto que cursou graduação e mestrado em Campinas e doutorado em San Diego, nos EUA. “Mas ficava horas numa salinha, com jaleco e máscara de acrílico, toda protegida, manipulando experimentos.” De volta ao Brasil, ela resolveu tentar a comunicação. Fez uma especialização em jornalismo científico na Unicamp e lá conheceu a jornalista Bia Guimarães, 27. Juntas, elas lançaram o podcast 37 Graus, recentemente selecionado por um programa global de aceleração do Google.

O 37 Graus é um programa pé na estrada, que corre atrás de temas que vão do futuro dos corais no Rio Grande do Norte ao plantio de milho numa aldeia indígena na Serra do Mar. O nome remete à temperatura média do corpo — algo que é científico e ao mesmo tempo muito humano, como o programa quer ser. “Mas, quando buscamos menções ao nome na internet, o que mais encontramos é gente se perguntando se 37 graus é febre ou reclamando do calor”, conta, bem-humorada, Sarah. 

De alguma forma faz sentido, a parte do calor. Porque o 37 Graus está num país tropical, e não poderia estar em outro lugar. “Nós contamos as histórias por trás das transformações na paisagem, na cultura, na vida do Brasil”, diz Sarah. 

“Viajamos pra onde a história está”, completa Bia, que antes do programa também levava uma vida bem acadêmica, cursando mestrado de divulgação científica e cultural na Unicamp.

Dizer que elas vão pra onde a história está não é só jeito de falar. O 37 Graus é o que se chama de podcast narrativo, com roteiro que leva o ouvinte a seguir as andanças das apresentadoras — escutando passos, sons de animais, diálogos. 

Bia Guimarães: “viajamos para onde as histórias estão”| Fotos: Divulgação

Em São Carlos,  no interior de São Paulo, elas acompanharam o lançamento de um balão pra estratosfera. No Rio de Janeiro, conversaram com um pesquisador que mora na beira da floresta do Maciço da Pedra Branca e investiga vestígios de carvoarias que, no século 19, funcionavam no meio da mata pra abastecer a cidade. Em Rio do Fogo, vilarejo a 80 quilômetro de Natal, mergulharam na rotina de quem estuda como as mudanças climáticas afetam os recifes de corais.

São temas sérios, contados de um jeito leve. Ao ouvir os episódios, ficamos sabendo que o biólogo entrevistado tem tatuagens de animais marinhos e usa pulseirinhas de semente. Ou que um professor de geografia pedala todo dia 60 quilômetros pra ir e voltar do trabalho e tem uma pedra enorme no meio da sala de casa, com agarras pra escalada. Ou ainda que Sarah ficou sem voz.

Bia e Sarah fazem tudo no podcast: da pauta à edição, passando pela captação das entrevistas e de áudios adicionais. Como colaborador, só contam com um músico, responsável pela trilha sonora. Sem contar Balu, cachorro de Sarah, que já deu uns latidos pra criar um clima num episódio.

Sarah Azoubel: “contamos as transformações na paisagem, na cultura e na vida do Brasil”

Mesmo com a equipe enxuta, o 37 Graus conseguiu se destacar num momento de boom dos podcasts no Brasil. Lançado em outubro de 2018, quase de cara conseguiu apoio financeiro: 100 mil reais de um edital do Camp Serrapilheira, voltado pra projetos de divulgação científica. Depois veio a seleção do Google Podcasts, que, além de 40 mil dólares, oferece um treinamento com encontros semanais online e três semanas em Boston. 

Recentemente a dupla lançou uma produtora, o Lab37, pra dar consultorias e produzir podcasts pra terceiros. Outra novidade é que a terceira temporada do 37 Graus deve vir em forma de websérie, com gravações em Natal e Recife. E dá pra passear enquanto grava? “A gente sempre leva um biquíni”, conta Bia. “Às vezes dá pra usar, às vezes não”.

3 dicas pra você começar um podcast

As dicas de Sarah pra quem tem vontade de fazer o próprio podcast

• A primeira coisa é ouvir muito podcast. Hoje tem gente que quer fazer um, mas não sabe bem o que é, não ouve. Precisa ter referência do que gosta e do que não gosta. E a gente estuda as referências, faz uma engenharia reversa delas.

• Se o podcast tiver um roteiro, escreva o texto como se fosse pra falar naturalmente, não pra ser lido.

• Música é importante. Mas use com intenção, pra pontuar a história, destacar alguma coisa. E o silêncio também serve pra pontuar, pra acentuar.

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