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Porque amamos os Retratistas do Morro

Por
Dandara Fonseca
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Em cartaz no Sesc Pinheiros, em São Paulo, o projeto busca resgatar e propagar, por meio da fotografia, a memória oral e visual de uma das maiores comunidades urbanas do País.

Além de ser uma forma poderosa de preservar memórias, a fotografia exerce outro papel muito importante: o de apresentar realidades e vivências distintas. Foi pensando em criar um imaginário das populações periféricas a partir de seus próprios olhares que surgiu o projeto Retratistas do Morro, que ganha agora uma exposição gratuita no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Porque amamos os Retratistas do Morro
Casamento de Maria Ângela com Paulinho, Belo Horizonte, 1987 | Foto: Afonso Pimenta
Porque amamos os Retratistas do Morro
Série Baile Black Soul, Dançarino de soul, 1987 | Foto: Afonso Pimenta

Pra não esquecer

Criado em 2015 por Guilherme Cunha, o projeto social tem como principal objetivo mapear e restaurar imagens que retratam a vida nas comunidades brasileiras. O artista visual e pesquisador se concentrou no acervo de dois fotógrafos: João Mendes e Afonso Pimenta, ambos de Aglomerado da Serra, uma das maiores favelas do país, em Belo Horizonte. 

Porque amamos os Retratistas do Morro
Da esquerda para a direita, do topo para baixo: Sônia, Pelé, Joãozinho do Açougue, João Cardoso, Zé Repolho, Fátima | Fotos: João Mendes

Por trás das lentes

João Mendes iniciou sua história na fotografia aos 14 anos, registrando festas e ocorrências policiais. Em 1972, criou a Foto Mendes, loja que funciona até hoje e já fotografou mais de cinco gerações. Além de produzir retratos em estúdio, se dedicou ao longo de três décadas a fazer imagens de alunos de beca ao fim da pré-escola. 

Afonso Pimenta começou na fotografia como assistente de João Mendes. Mas sua carreira profissional se consolidou quando começou a registrar os bailes soul espalhados por Belo Horizonte. Diferente de seu mestre, focou nos retratos que define como “corpo a corpo”: ir até as pessoas pra clicá-las em aniversários, batizados, casamentos e outras celebrações do cotidiano. 

Porque amamos os Retratistas do Morro
Série Baile Black Soul, Marcelo Santos, Renata “Negona” e Marcelino Antônio Braga de Oliveira “Ganso” | Foto: Afonso Pimenta

Muito material

Ao todo, são 250 mil fotos catalogadas e preservadas —  320 delas presentes na exposição —, feitas ao longo de cinco décadas, entre 1960 a 1990. Imagens que representam o dia a dia de milhões de pessoas do Brasil. Uma parte da história que, sem o projeto, provavelmente seria perdida e nunca se tornaria do conhecimento de mais pessoas. 

Porque amamos os Retratistas do Morro
Retrato de João Pedro Pimenta | Foto: Afonso Pimenta

Recuperando narrativas

O projeto também busca usar a fotografia como um lugar de escuta, como uma forma de resgatar as histórias orais presentes por trás dessas imagens. Para isso, a mostra traz 60 áudios com trechos de entrevistas com os fotógrafos e seus fotografados, bem como lideranças locais e agentes culturais. 

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Tiãozinho e Graça, 1987 | Foto: Afonso Pimenta

Cada pessoa é um mundo

Ao passear pelas imagens, vamos descobrindo personagens tão banais quanto incríveis como a Lilian, sobrinha do Jorge da Muleta, as filhas do Loirinho, dançarino de Soul, Fernando Black
 e o casal Tiozinho e Graça. 

Porque amamos os Retratistas do Morro
Série Baile Black Soul, sósia de Michael Jackson, 1986 | Foto: Afonso Pimenta
Porque amamos os Retratistas do Morro
Série Baile Black Soul, Dançarino de soul, 1987 | Foto: Afonso Pimenta
Porque amamos os Retratistas do Morro

A exposição Retratistas do Morro está em cartaz no Sesc Pinheiros (R. Pais Leme, 195), em São Paulo. Terça a sexta, 7h às 21h; sábados, domingos e feriados, 10h às 18h. Até 20 de novembro.

Foto de abertura: Aniversário de 6 anos da Renatinha, 1988 | Afonso Pimenta