Inóspito e perdido no tempo, sem ruas ou luz elétrica, Cabo Polonio, no Uruguai, é o melhor lugar para você passar as próximas férias
Os 12 segundos de escuridão que dão nome à música de Jorge Drexler são parte da poesia de Cabo Polonio. Esse é o tempo em que parte do lugar fica no escuro, enquanto o farol centenário ilumina o outro lado. Como a luz elétrica não existe por ali e os geradores são limitados por lei, a escuridão permite ver as estrelas como em poucos lugares do planeta.
Mas não se preocupe muito com ela – a escuridão. Por conta da posição geográfica do cabo, no verão só anoitece por volta das 21h. Isso quer dizer que dá pra curtir a praia até bem tarde. Ou, melhor que isso, sonho de verão é alugar uma casinha com varanda e vista para o mar, grudada na encosta de pedra, e passar horas bebendo vinho branco gelado com os amigos para ver o dia se alongar além da conta. Não dá pra falar que tem muitas coisas no mundo melhores pra se fazer do que isso.

As praias de Cabo Polonio não são particularmente bonitas. Quem mora no Brasil e já visitou os locais mais desertos do nordeste (quando eles existiam), sabe que a gente tá no top five mundial em quantidade e diversidade de praia incrível. Mas esse lugarzinho extremo no Uruguai tem algo que não se encontra por aqui.
A primeira coisa: é inóspito, distante, meio abandonado no tempo de uma certa forma. E, dia após dia, vai dando aquela vontade de ficar e entrar nesse tempo paralelo. Não faça como a galera que está em Punta del Leste, que vai lá pra passar o dia. Fique quatro, cinco noites. Até mais, se puder.
Como se trata de uma reserva de biosfera da Unesco, é proibido ir de carro para Cabo, que está a 250 km de Montevidéu e cerca de 100 km do Chuí, no Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com Uruguai. Esse é um privilégio dos moradores – não mais que 50 famílias que foram para lá nos anos 1960. E parou aí. Você vai de transfer, ônibus ou com seu carro, deixa ele na entrada do parque e segue viagem com um caminhão que balança demais – e a diversão está exatamente aí. Mas leve um cachecol porque nem sempre os ventos são morninhos, não. Aliás, venta muito o tempo todo. É areia pra lá e pra cá e as temperaturas podem cair mesmo no verão. Previna-se.
De um lado está a Playa Sur, mais bonita, com areia mais fofa e clara, com mar bem rasinho, que você anda tipo uns 30 metros e ainda está com ondinhas na cintura. E, os locais advertem, tem muita água-viva. Na encosta de pedras, dezenas de casinhas brancas com varanda. Uma coisa meio Grécia, mas muito mais rústica. Aqui é onde ficam as lindas famílias de uruguaios que viajam juntos, mesmo com filhos na casa dos 20 anos. E onde há um bar de praia bacaninha com boa comida e bons vinhos locais.
Do outro lado, uma praia de areia batida, cheia de pescadores e surfistas, um lobo marinho ou outro e muitas dunas – as mais altas do Uruguai. Fica mais perto das dezenas de hostels de Cabo e do único hotel mais estruturado que existe por lá, o La Perla del Cabo, que também tem um restaurante. A outra opção de pousada boa é a La Posada, mais simples, bonitinha, limpa, perto da Playa Sur. Mas não é fácil conseguir um quarto na alta temporada.

No meio, uma vila muito hippie. Com lojinhas de roupas tie dye e objetos esculpidos em madeira, gente descalça não importa a temperatura, mochileiros do mundo todo e surfistas saídos dos anos 1970.
Sem asfalto, obviamente, sem máquina de cartão de crédito, sem nenhuma sofisticação. Sem essa de pós-luxo ou do “luxo está na simplicidade”. Aqui é só simplicidade mesmo, sem luxo. Leve dinheiro vivo, a propósito.
Não acabou. Andando em direção ao farol, a coisa vai ficando mais rural. Há cavalos – um meio de transporte considerável por ali –, famílias de patinhos e, finalmente, chegamos na maior atração de Cabo: os lobos marinhos. São milhares e milhares deles. Leve a canga, ponha em uma pedra com uma certa distância e esqueça do tempo olhando o espetáculo que são esses bichos juntos. Eles fazem muito pouco além de mergulhar e se espreguiçar no sol, mas é relaxante e lindo de olhar. De vez em quando, um leão marinho aparece querendo briga e movimenta a coisa.
No inverno e na primavera, baleias jubarte podem ser avistadas em alguns locais, mas não é algo muito fácil de ver, então se contente com os lobos. Eles já valeriam a viagem até Cabo, se não fosse por todo o resto.
Foto de abertura: Patrícia Cassol Pereira/Unsplash