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O negócio de Nicolau é preparar comida numa cozinha movida a sol

Por
Mariana Weber
Em
8 setembro, 2019
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Nicolau Bussolotti Francine vive do sol. Quer dizer, todo mundo precisa do sol, mas Nicolau precisa mais do que todo mundo. Porque construiu a vida, pelo menos a profissional, contando com a força dele. Em Ubatuba, no litoral de São Paulo, o empreendedor de 32 anos faz fornos e desidratadores de alimentos movidos a energia solar. Também percorre o Brasil pra compartilhar suas descobertas. Assim ajuda a transformar a vida de quem precisa ou quer cozinhar com um combustível alternativo — ajuda também a repensar a relação que a gente tem com o sol e com o tempo.

“A tecnologia do forno solar exige uma sinergia com a fonte de energia. É preciso ter uma ligação forte com ela. E respeito. Porque é uma energia abundante, gratuita, mas tem limitações”, diz Nicolau. “Geralmente a gente tem sinergia com o botão on-e-off. Aperta e liga um aparelho, usa e depois desliga.”

A relação de Nicolau com o sol começou a mudar quando ele cursava faculdade de gestão ambiental na USP de Piracicaba e decidiu levar uma vida mais autossuficiente. Morando numa chácara, comia mangas, acerolas e mexericas das árvores do terreno, plantava verduras na horta, comprava laticínios e ovos de vizinhos. Pra ganhar dinheiro, fazia artesanato em madeira — brincos, colares, esculturas — a partir de matéria-prima que garimpava em caçambas.

Em sua “fábrica” em Ubatuba, no litoral de São Paulo | Fotos: Divulgação | Pleno Sol

Na toada desse estilo de vida, pesquisou na internet como construir um forno à lenha e acabou se deparando um tutorial de como construir um forno solar. Recorreu novamente às caçambas: com pedaços de janela e forro de telhado montou uma caixa, forrou com papel alumínio, usou um cobertor velho pro isolamento térmico. O equipamento estava pronto. “Quando vi água fervendo naquela caixa de madeira, fiquei abismado. Como ninguém falava disso?”

Nicolau resolveu falar. O forno virou seu objeto de estudo favorito na faculdade. Mas ele achava que não emplacaria como um produto comercial. “A tecnologia é de baixíssimo custo, mas tem uma série de restrições.”

O forno solar está mais à mercê da natureza, claro. Fechou o tempo, fechou o forno, e nem pensar em cozinhar à noite.

Pra funcionar, ele conta com refletores que concentram a energia solar. Mesmo assim assa os alimentos mais lentamente do que um forno convencional, porque não atinge as mesmas temperaturas (chega a uns 150ºC). E precisa ser mexido à medida que o sol caminha no céu, pra aproveitar ao máximo a luz.

Oficina de forno solar realizada no interior de Minas Gerais | Fotos: Divulgação | Pleno Sol

Existem alternativas pra contornar essas limitações, e hoje Nicolau trabalha com algumas delas, como equipamentos híbridos (que funcionam também com energia elétrica). Seu projeto mais recente envolve um sistema que consegue armazenar a energia pra usar depois.

Na época de estudante, ele achou que era mais negócio vender comida “solar”: assava pães de mel e comercializava na faculdade e em cafés de Piracicaba. Só depois começou a vender os fornos — quando a história da cozinha movida a sol se espalhou e apareceram interessados em comprá-los.

Em 2011, já de volta a sua cidade natal, Ubatuba, ele viu o negócio de cozimento solar deslanchar depois que uma ONG do Ceará encomendou 50 fornos pra distribuir num projeto na caatinga, numa tentativa de diminuir o consumo de lenha. Além de vender os equipamentos, Nicolau foi pra lá, na região da reserva natural Serra das Almas, pra mostrar pras famílias como fazer tapioca, arroz e bolo com brigadeiro – tudo solar.

 

 
 
 
 
 
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Hoje a empresa dele, a Pleno Sol, vende fornos solares e também desidratadores híbridos, que se tornaram o carro-chefe do negócio. Tudo é construído numa oficina que conta com lâmpadas solares (claraboias feitas com potes de vidro) e energia captada por células fotovoltaicas.

Um forno simples custa 195 reais e um desidratador, a partir de 495.

Nicolau usa o desidratador pra fazer de chips de banana a tomate seco, de “courinho de frutas” a pó de verdura (que ele joga na comida da filha, Luana, de 3 anos, pra enriquecer e dar sabor).

Quando não está trabalhando, programão é ir com a filha à praia. Mas Nicolau pega leve com o sol: diz que ganhou mais consciência depois de ver bolos dourando nos equipamentos que vende. “Sou bem sensível, me queimo fácil. E a vivência com o forno mostrou todo o potencial de destruição e força do sol.”

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