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O vinho preto é o novo vinho laranja?

Por
Adriana Setti
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A bebida escura com aparência de suco de amora talvez seja a próxima tendência que você vai ver nos bares especializados em naturais e biodinâmicos.

Conhecidas como tintureiras, as variedades de uva com pele bem roxa e polpa de um tom vermelho intenso já foram sinônimo de vinho de má qualidade. Mas o mundo dá voltas e, nos últimos tempos, é essa bebida escura — genericamente chamada de black wine — que os entendidos querem ter em suas taças.

O vinho preto é o novo vinho laranja?

“Após definhar por quase cem anos, as uvas tintureiras e a bebida escura que elas produzem estão finalmente começando a se livrar do estigma, à medida que os criadores de tendências no mundo do vinho natural começam a apresentar produtores dessas variedades.”

Trecho de reportagem do The New York Times

Vários tons de preto

O vinho preto é o novo vinho laranja?
Foto: Gvino

Quando alguém fala de black wine, pode estar se referindo a vários tipos, a exemplo do negro de Cahors — um Malbec francês superestruturado — ou um Alicante Bouschet, produzido em vários países da Europa. O hype, no entanto, tem mais a ver com os georgianos feitos com a variedade Saperavi.

O vinho preto é o novo vinho laranja?
Foto: LMoreau Henri / Wiki Commons

Os vinhos produzidos com Saperavi na Geórgia têm um tom de ébano e, tradicionalmente, são envelhecidos em ânforas de argila, os qvevris — também usados pra produzir vinhos laranja —, e passam por longos períodos de maceração com as cascas, o que lhes confere cor e intensidade.

Imagem manchada

O vinho preto é o novo vinho laranja?
Foto: Post of Georgia

Parte da União Soviética de 1921 a 1991, a Geórgia era a responsável por abastecer de vinho o Bloco Comunista. Pressionados pela Rússia, os produtores arrancaram boa parte das uvas autóctones e replantaram Saperavi e Rkatsiteli, arrasando com a biodiversidade de um país que tinha mais de 500 variedades locais, em nome da produção em larga escala. 

O vinho preto é o novo vinho laranja?

“Por conta dessa estratégia do regime comunista, e da posterior industrialização do século 20, quando o país continuou fazendo tintos de baixo custo pra exportação, criou-se um preconceito em relação ao vinho georgiano e ao Saperavi.”

Lis Cereja, sommelier, chef de cozinha e nutricionista, proprietária da Enoteca SaintVinSaint e fundadora da Feira Naturebas

O vinho preto é o novo vinho laranja?
Foto: Feira Natureba
O vinho preto é o novo vinho laranja?
Foto: Feira Natureba

Nas últimas décadas, no entanto, a Geórgia vem recuperando a sua reputação e tradição, atraindo olhares de todo o mundo. Na edição 2024 da Feira Naturebas, o assunto mais comentado foi a presença do produtor John Wurdeman, da vinícola georgiana Pheasants Tears.

O vinho preto é o novo vinho laranja?

“Esse interesse tão grande vem do fato de a Geórgia ser o berço do vinho. Então quem realmente gosta desse assunto ou trabalha no setor acaba se interessando por esse país. Estar lá é uma grande aula in loco, uma espécie de portalzinho no tempo pra você ver a origem de tudo.”

Lis Cereja

Feito no Brasil

Terroir da Vigia. O vinho preto é o novo vinho laranja?
Foto: Terroir da Vigia

O Brasil tem apenas um viveiro que trabalha com mudas de videiras georgianas. E algumas delas foram parar na Terroir da Vigia, vinícola localizada em Sant’Ana do Livramento, na Campanha Gaúcha, que produz um Saperavi de alta qualidade, orgânico e natural.

O vinho preto é o novo vinho laranja?

A importação de vinhos naturais da Geórgia no Brasil teve início este ano e, ao contrário do que rola em Nova York ou Londres, ainda é difícil topar com um Saperavi por aí. Mas é questão de tempo. Por enquanto, alguns endereços já servem outros vinhos georgianos.

Onde provar vinhos da Georgia

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Foto: Enoteca Saint Vin Saint

Beverino — Vinhos naturais e comida boa na Vila Buarque, em São Paulo.

Enoteca Saint Vin Saint — No restaurante da sommelier Lis Cereja, em São Paulo, você vai encontrar o Saperavi da Terroir da Vigia e bons exemplos de vinhos naturais georgianos.

Crédito da imagem de abertura: Shutterstock