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A cilada da ostentação espiritual

Por
Adriana Setti
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Espiritualidade pode ser muita coisa. Mas certamente não é algo que deveria ser tratado como mercadoria ou transformado em arrogância.

Sabe aquele amigo que passou uma semana num retiro e encontrou a plenitude? Que bom pra ele, não é mesmo? Afinal de contas, buscar o equilíbrio e alguma forma de espiritualidade pode ser importante pra levar uma vida solar. O problema é quando, ao encontrar esse “algo mais”, a pessoa passa a atuar como se pertencesse a uma espécie de casta elevada.

Algo a almejar

Ostentação e espiritualidade
Crédito: Alexas / Unsplash

Estudos sugerem que expressões da espiritualidade podem ter um impacto positivo na saúde física e mental. Por essas e outras, é natural que uma pessoa que “chegou lá” tente convencer amigos e familiares a seguir esse caminho. Mas isso é bem diferente de passar a agir com ar de superioridade ética e moral.

Com a humanidade trancada em casa na pandemia, o autocuidado e a espiritualidade também se converteram em palavras-chaves pra vender de viagens focadas em bem-estar a vela aromática, passando por skincare e cristais. Passada essa fase, bora refletir sobre o que realmente importa antes de consumir tudo isso?

“A espiritualidade contemporânea é a cocaína para quem quer se sentir especial”.

 Larry Be, no podcast Elefantes na Neblina

É mercadoria?

Retiros espirituais e afins — de yoga, meditação, jejuns terapêuticos, xamanismo e muitos outros — são parte do mercado global de turismo de bem-estar, avaliado em US$ 814,6 bilhões em 2022 e que deve crescer 12,42% ao ano de 2023 a 2030, segundo um relatório da consultoria Grand View Research.

Ostentação real

Ostentação e espiritualidade
Crédito: Jon Florban

Se você andou procurando algum retiro de “curas” variadas por aí, entende muito bem como esse mercado movimenta tanta grana. Ou seja, existe um recorte social muito significativo nessa “espiritualidade” de Instagram, inacessível à maioria de nós.

“A loucura dos retiros de luxo não é encontrada apenas na série de Nicole Kidman: templos de meditação em Ibiza ou móveis exclusivos de pedra energética são os últimos caprichos na transformação pessoal dos super-ricos. O dinheiro é o melhor atalho para o Nirvana”.

Trecho de reportagem do jornal El País, com referência a Nove Desconhecidos

Procure em outro lugar

Espiritualidade pode ser muita coisa, já que se trata de algo extremamente subjetivo. Justamente por isso, não deveria estar à venda; causando gatilhos nas redes sociais e nem no discurso de quem confunde plenitude com superioridade. 

Créditos imagem de abre: Kristina V / Unsplash

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