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A Maresias de Carlos Bahia: o tricampeão brasileiro de longboard dá as dicas da praia onde viu o mar pela primeira vez

Por
Adriana Setti
Em parceria com
true

O atual campeão brasileiro de surf clássico conta como foi a sua trajetória do sertão da Bahia até o litoral norte de São Paulo e revela seus picos preferidos pra pegar onda, comer e pedalar.

Nascido no sertão da Bahia, o atual campeão brasileiro de longboard conheceu o mar em 1998, aos 11 anos de idade. “A primeira vez que pisei numa praia foi em Maresias”, conta Carlos Bahia. “Descendo a serra de ônibus, bati o olho naquele visual e falei, nossa, que mundão de água!” Criado em uma fazenda a pelo menos cinco horas do litoral, ele nem cogitava que seria surfista profissional. “Sonhava em montar num touro na festa do peão de Barretos”, diz. A história do longboarder começou a tomar um rumo diferente quando sua mãe migrou pra São Paulo e conseguiu emprego como empregada doméstica em Maresias, na casa do empresário que viria a ser seu primeiro patrocinador.

O tricampeão brasileiro de longboard Carlos Bahia | Crédito: Lucciano Cruz (@luccianocruz)

Na praia que concentra alguns dos melhores beach breaks do litoral norte paulista, a porta de entrada pro surf foi a escola municipal, onde alguns atletas locais, como os irmãos Cristiano Aladin e Alexsandro Abolição, tocavam um projeto social de base voltado ao esporte. “Quando subi na prancha pela primeira vez, coloquei as quilhas pra cima, porque achava que tinha que me segurar nelas!”, conta, entre gargalhadas. Entre os equipamentos da escola, o pranchão logo se tornou seu favorito. “Comecei a surfar tarde e, naquela época, uns caras da minha idade já estavam arrebentando na pranchinha. O Adriano Mineirinho estava ganhando todas e vi que não tinha chance naquele meio”, diz Bahia. “Daí conheci o longboard, vi que era fácil pegar onda na marola e foi só glória!” 

Com a ajuda de um amigo, que pagou a inscrição, Bahia fez a sua estreia no circuito profissional em 2000, durante uma prova do mundial de longboard (WLT) em Maresias. “Fui eliminado logo no começo, fiquei lá assistindo o campeonato e daí veio o Bonga Perkins do nada e me deu a prancha dele de presente”, conta o baiano, referindo-se ao havaiano bicampeão do WLT, que é sua principal inspiração no esporte. “Foi o meu primeiro longboard, tenho até hoje! Aquilo representou o começo de tudo pra mim”. Seis anos mais tarde, Bahia foi campeão brasileiro pela primeira vez e, na mesma temporada, terminou em terceiro no mundial. O segundo título nacional veio em 2017 e, em 2020, voltou a ocupar o topo do pódio. “Ser tricampeão em um ano tão difícil teve gosto de batalha vencida”, conta. 

O longboarder Carlos Bahia
Créditos: Divulgação

“Não me considero um grande surfista, mas sou um grande competidor. Me adapto rápido aos novos critérios da Liga Mundial de Surf, que nos últimos anos vem dando preferência a um estilo bem clássico, quase como um balé. Antes o meu surf era mais radical, mas é isso que o juiz quer? Então vamos mostrar pra ele”, diz Bahia, que acorda todo dia às cinco da manhã pra pegar onda. “Treino com muito foco, então a derrota me deixa mal. Até se vou jogar bolinha de gude com a minha filha eu quero ganhar”, diz o longboarder. Casado há 18 anos com Vanessa, ele é pai de Aila, de cinco anos, que ainda não demonstrou muito interesse em surfar. “Não sou aquele paizão que fica forçando a barra. É muito difícil viver do surf no nosso país, então ela vai escolher o caminho dela” diz Bahia. “As coisas estão melhorando um pouco, mas precisam mudar muito. Conseguir apoio e patrocínio ainda é complicado, principalmente no longboard. Nesse aspecto, o racismo é um assunto bem delicado. Já bati em várias portas, levei não e senti que a explicação não colava. Depois via outros atletas conseguindo e ficava me perguntando por que”, diz.

O longboarder Carlos Bahia encara uma direita em Maresias, no litoral norte de São Paulo | Crédito: Aleko Stergiou (@aleko_stergiou)

Os perrengues pra conseguir patrocínio, no entanto, não impediram o tricampeão de viajar pelos cinco continentes. “O surf já fez esse baiano rodar o mundo sem falar nenhuma palavra de inglês. Todo mundo me chama de louco, mas eu consigo ir, voltar e fazer amigos só na mímica”, diz Bahia. “Sou muito curioso e gosto de curtir a cultura local”. Uma de suas trips mais marcantes foi tema da série Surfe no Oeste da África, do Canal Off. Contracenando com o surfista Robertney Barros, de Cabo Verde, ele desbravou o continente africano em busca das suas origens e de ondas que nunca tinham sido surfadas. “Conheço muitos países, mas não troco Maresias por nada. Esse lugarzinho é tudo pra mim.” 

Aqui, Carlos Bahia dá as suas melhores dicas de Maresias, onde costuma levar a galera ao delírio, surfando com roupa de Papai Noel, fazendo o moonwalk de Michael Jackson (devidamente fantasiado) no pranchão, entre outras performances hilárias, registradas no seu canal Tirando Onda, no YouTube.

Onde comer em Maresias

O restaurante favorito de Carlos Bahia é o Terral (@terral.maresias), um clássico de Maresias, que prepara peixe fresco e pratos sarados desde 1987. “Amo a moqueca, a caldeirada e a carne desfiada”, diz. Ele também curte a picanha acebolada na chapa do Badauê (@badauemaresias), que tem vista pro mar e cerveja Corona gelada. Entre os restaurantes mais frequentados pelos locais, o longboarder indica o Da Tia (@restaurante_da_tia_), de cozinha caseira caiçara. “O feijãozinho de lá… meu deus! Sempre peço o trivial com um peixinho ou lula”.

Onde tomar café da manhã em Maresias

“Cinco da manhã eu já entro pelo fundo da padaria pra tomar café com o padeiro e a rapaziada”, diz Bahia, que bate cartão na Padaria Elite (Av. Dr. Francisco Loup, 420), uma instituição de Maresias. Também serve ótimos sucos naturais, sanduíches e açaí. 

O que fazer em Maresias quando não tem onda

“Curto remar, pescar lula, ir pra alguma uma cachoeira ou ficar com a família na praia”, diz Bahia, que também aproveita os dias de mar flat pra pedalar. “Conheci o pedal pelo empresário João Paulo Diniz, que puxa um bom ritmo de treino quando está por aqui”. O longboarder costuma encarar a travessia de Maresias até Guaecá, que soma uns 40km ida e volta, entre pista e trilhas. “O trecho entre Maresias e Paúba é bom pra fazer off road, assim como a trilha de Calhetas ou a da Praia Brava. Não é pra iniciantes, mas o visual é incrível!”, diz. Pra quem quiser fazer um passeio guiado de bike, ele indica a Maresias Tur (@maresiastur). 

As melhores ondas pra surfar de longboard no litoral norte 

“Maresias tem qualidade de ondas em todas as formas e, pra mim, é a número um. Mas adoro sair de madrugada e ir até a Praia da Baleia, que tem areia batida e uma onda mais gorda, ótima pra longboard. De quebra, a paisagem é linda, com várias ilhas na frente”, diz Bahia.

Foto de abertura: Lucciano Cruz (@luccianocruz)


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