Vibes

A noite em que Sérgio Rabello, dono do tradicional Galeto Sat’s, no Rio, colou na Void Madureira

Por
Bruno Dieguez
Em
12 março, 2020
Em parceria com
true

No comando do mais tradicional fim de noite do Rio, Serjão resolveu trocar de balcão por uma noite e conhecer o rolé da Void Madu.

“Meu compromisso é com quem bebe.” Sérgio Rabello, 69 anos, repetiu essa frase quase tantas vezes quantas esvaziou o copo de cerveja ao longo das mais de seis horas etílicas com a nossa equipe gente. O objetivo era levar o dono do Galeto Sat’s, o mais tradicional fim de noite carioca em Copacabana e Botafogo, para conhecer a unidade de Madureira da Void. Misto de bar, loja e filosofia de vida, a marca que nasceu em Porto Alegre é famosa por reunir uma galera jovem e descolada em seus sete endereços pelo Rio. Da Zona Sul ao epicentro da cultura suburbana são mais de 20 quilômetros de distância.

Duas coisas ficaram claras desde o início do trajeto: Serjão faz amizade fácil e tem muita experiência nessa história de boemia. Nascido e criado no Méier, ele chegou a Copacabana nos anos 1970 e fincou raízes no número 12 da rua Barata Ribeiro. Sem nunca deixar de frequentar a Zona Norte, trabalhou décadas como servidor público até comprar o vizinho Galeto Sat’s, que fica na casa número 7 da mesma rua. Assumiu o bar que frequentou a vida toda há dez anos, quando o dono espanhol deu sinais que queria passar o negócio adiante. “O velho Garcia só queria que o Sat’s continuasse sendo um botequim”, diz. Mais que manter a história de quase 50 anos daquele ponto, ele transformou o Sat’s num sucesso de novas proporções e há três anos inaugurou outra unidade em Botafogo. 

“Boêmio é o cara que bebe bem, se comporta bem e mantém o bom humor”, define. Serjão é assim o tempo todo. No caminho para a Void, mandou o motorista parar no bar Cachambeer, chamou alguns garçons pelo nome e, de uma bandeja, tomou emprestadas duas tulipas pela janela do carro. “Na volta eu devolvo”, garantiu. Ainda que a volta, se tratando de Sérgio, possa demorar. Quando assumiu o Sat’s, ele decidiu estender o funcionamento para atender o pessoal da música e das artes, que trabalha até tarde e fica órfão de opções para beber e comer. Como segue de portas abertas até 6h ou 7h da manhã, ganhou fama de fim de noite dos bons e conquistou um novo público, que fica a madrugada toda na calçada. “Meu compromisso é estar aberto quando o jovem sai da festa e quer a saideira”, conta. 

Sempre de copo na mão e chapéu de palha na cabeça, Sérgio não demora para se enturmar. Assim que chegou na Void Madu, foi direto ao balcão, pediu bebidas para todos e engatou um papo com o cliente ao lado. Frequentador de bares dos dois lados do Túnel Rebouças, elogia a informalidade suburbana, que tenta praticar em todo canto. “A recepção aqui é outra. As pessoas são mais autênticas”, diz. Deu uma espiada na lojinha, vestiu chapéu, óculos escuros e se espantou com a variedade de sneakers. Não comprou nada e preferiu o papo com a galera que estava por ali, principalmente skatistas que andam no Parque Madureira e esticam na Void. Parecia que se conheciam há anos. “Passa lá no Sat’s para gente tomar umas”, repetia ao se despedir de cada grupo. 

Fotos: Lucas Bori

“O papo é outro na madrugada. Desconhecidos e pessoas muito diferentes começam a conversar de igual para igual”, diz. Neste ponto ele enxerga a grande semelhança entre as noites da Zona Sul e do subúrbio. Seja no hype da Void ou entre porções de pão de alho e coração de galinha no Sat’s, a sintonia é fina entre copos de cerveja e cariocas boêmios. Serjão circula de ponta a ponta — e conhece as melhores paradas do caminho. Na volta para casa, como prometido, paramos no Cachambeer, devolvemos as tulipas e tivemos que tomar mais não sei quantas saideiras. É que qualquer noite com o Sr. Sat’s é assim, sem hora para acabar. 


É nos botequins da cidade, entre os amigos reunidos em torno de copos de cerveja, petiscos e, com sorte, música boa, que mora a alma da boemia. O pessoal do dominó continua por lá, enquanto novos endereços pipocam pelas ruas do Brasil, provando que dá para se reinventar sem perder a tradição. A Bohemia gelada acompanha, mas o que importa mesmo são os encontros.
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